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Crítica de Cinema: Introdução

22/12/2009

Discutir a influência da crítica especializada pode render um debate tanto sadio quanto polêmico. O professor Marildo Nercolini, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF), organizou um seminário para a disciplina Crítica Cultural. Os alunos Carla Sobrosa, Guilherme Reis e Maurício Caleiro apresentaram trabalhos sobre crítica cinematográfica.

 

Adhemar Gonzaga: crítico e cineasta

Para traçar um panorama da evolução da crítica de cinema no Brasil Caleiro utilizou o livro “Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte”, de Paulo Emílio Salles Gomes. As primeiras publicações com seções especializadas em cinema foram a Para Todos (1919) e A Scena Muda (1921-1955). Adhemar Gonzaga e Pedro Lima fazem parte da primeira geração de críticos que tinham Hollywood como padrão para a profissionalização do cinema nacional. Os primeiros textos exigiam a elevação da qualidade técnica dos filmes, que se evitasse fotografar o feio (pobreza, fome, miséria e tudo o que fugisse a estética hollywoodiana) e a abolição de histórias que tivessem um olhar negativo sobre a sociedade.

Os filmes feitos em terras tupiniquins não conseguiam seguir as inovações tecnológicas do cinema norte-americano e por isso recebiam pouco espaço nas revistas e periódicos da época. Adhemar Gonzaga foi um dos pioneiros na defesa da nossa produção, acreditando que fazer cinema era uma vocação do brasileiro. A revista Cinearte (1926-1942) nasceu dessa vontade de escrever, analisar e indicar um caminho para o desenvolvimento das obras realizadas no Rio e em São Paulo.

A valorização dos filmes nacionais foi importante para tirar o estigma de malandragem que corria nos primeiros estúdios de cinema. Fazer cinema e trabalhar em filmes não era uma profissão encarada como séria na época. Nenhuma moça de família gostaria de apresentar ao pai um rapaz que estivesse envolvido nesse meio social.

O jornalista Moniz Vianna encabeça a chamada ‘crítica clássica’ que vai dos anos 40 aos anos 60. Vianna escreveu no diário Correio da Manhã, de 1946 até 1973, e pregava que um cinema de qualidade deveria se utilizar da narrativa clássica, ou seja, da invisibilidade da montagem e da linearidade de tempo/espaço. O cinema nacional era tido pelos críticos brasileiros como subdesenvolvido e a solução seria se aproximar dos padrões hollywoodianos.

Neo-realismo italiano, Nouvelle Vague, Cinema Novo. Muitas mudanças para as cabeças dos críticos clássicos como Vianna que não entendiam o valor de Roma, Cidade Aberta e achavam Roberto Rossellini uma fraude. Uma nova crítica precisou nascer para acompanhar os rumos do cinema no pós-guerra. A onda dos filmes autorais onde o diretor-autor-crítico fugia dos estúdios e negava as grandes histórias para fazer um cinema que buscava um contato mais próximo ao cotidiano inundou as páginas da revista francesa Cahiers du Cinéma e aqui no Brasil encontrou guarita na mineira Revista de Cinema e no crítico Maurício Gomes Leite.

Outro refúgio para a crítica nascente foi a revista Senhor, criada em 1959 com o intuito de preencher uma lacuna no mercado editorial brasileiro com um mensal formador de opinião. Nela discutia-se o Cinema Novo, a Nouvelle Vague, o cinema japonês, Bertolt Brecht, a Bossa Nova, a poesia moderna, a literatura de cordel, o folclore e a cultura indígena e os textos culturais eram assinados por Paulo Francis. Um terreno fértil que permitiu a proliferação dos ideais que combatiam a mesmice da crítica clássica.

José Lino Grünewald

Vários ensaístas, críticos e intelectuais tomaram parte nos debates que estavam agitando o mundo, entre eles, o jornalista e crítico José Lino Grünewald recebe atenção especial por ser apontado por seus pares como o introdutor do cinema de Jean-Luc Godard e Alain Resnais nas rodas culturais do eixo Rio-São Paulo.

Grünewald escreveu no Correio da Manhã, O Globo, Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa, Última Hora, O Estado de S. Paulo, Folha da Tarde e Folha de S. Paulo. Organizou e traduziu A ideia do Cinema, lançado em 1969, com textos de Walter Benjamim, Sergei Eisenstein, Godard, entre outros.

Podemos dizer que a crítica brasileira acompanhou o desenvolvimento do cinema nacional e em alguns momentos caminhou lado a lado com autores e diretores. Nos anos 60, com a explosão trazida pelas “novas ondas” que sacudiram o classicismo, críticos e cineastas se misturaram e até trocaram de lugar.