A diretora Albertina Carri está longe de ser uma iniciante, A Raiva é seu quarto longa-metragem, mas parece que a cineasta precisa rever alguns conceitos. Carri estudou fotografia, roteiro, direção e começou trabalhando como assistente de câmera até se aventurar, em 2000, na direção de No quiero volver a casa. Na seqüência, em 2001, realizou dois curtas de animação, Aurora e Barbie tambien puede estar triste. Em 2003, retornou aos longas com Los Rubius, eleito Melhor Filme Argentino no BaFICI e Géminis (2005) que foi exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes.
A sinopse de seu novo filme nos passa uma idéia interessante do que veremos na tela grande:
“Poldo é um fazendeiro forte e calado que vive no Árido Pampa Argentino junto de sua mulher e sua jovem filha Nati, que é muda. Ao suspeitar que seu vizinho Pichón insultou Nati, Poldo decide prontamente cortar contato com o amigo, obrigando sua mulher a fazer o mesmo. Ela, no entanto, mantém um caso secreto com o vizinho, sobre o qual Poldo nem desconfia. Nati sabe da infidelidade de sua mãe, assim como o filho de Pichón, seu único amigo. Na ausência de palavras, a menina desenha o que vê. Quando Poldo descobre estes desenhos, uma grande tragédia tem início na vida de todos”.
Quando partimos dessa premissa básica podemos imaginar que será um filme duro, austero e até certo ponto violento. Ora, não temos raiva logo no título? Mas o tom que Carri utiliza resvala mais para a comédia do que para o drama, e parece que essa não foi a intenção da cineasta.
A menina Nati (Nazarena Duarte) tem o hábito de desenhar e tirar a roupa quando fica nervosa. Podemos imaginar que esse estranho costume, o de tirar a roupa, possa estar relacionado com o hábito da mãe de também tirar a roupa e gritar. A diferença, nem um pouco sutil, é que a mãe (Analía Couceyro) também geme com as estocadas que o amante lhe dá.
Os dois antagonistas, Poldo (Victor Hugo Carrizo) e Pichón (Javier Lorenzo), possuem a mesma construção e os atores não escapam da superficialidade do machão dos pampas. Pichón poderia receber o sugestivo apelido de tripé dos pampas. Ele não deixa escapar nada e seu alvo diário é a esposa de Poldo.
Como Albertina Carri assinou também o roteiro, podemos atribuir a ela grande parte do que ocorre na tela. Os desenhos de Nati ganham vida e transbordam na tela em segundos longíssimos e chatos. Parece que sobrou algum material dos curtas-metragens de animação e a diretora resolveu não desperdiçar a oportunidade. Os poucos momentos de tensão são estragados por essa técnica refinada e pedante.
A raiva que o título tanto pede só acontece de fato em duas cenas dispensáveis. Vemos Pichón, pela quarta vez, currar a mulher de Poldo. Ele amarra um cinto de couro no pescoço da danada e manda ver. Carri ainda teve tempo de mandar matar e estripar um porco para fazer um churrasquinho. Parte da platéia, em maioria feminina, fez sons guturais. Nas duas cenas. Dispensável.
A raiva (La Rabia)
Argentina, 2008. 83 minutos
Direção: Albertina Carri