Rodrigo Séllos estava no primeiro período de cinema na UFF quando decidiu registrar o dia a dia dos pacientes, ou melhor, clientes do Serviço de Atenção Diária do Espaço Aberto ao Tempo, do Instituto Municipal Nise da Silveira, localizado no Engenho de Dentro, na cidade do Rio de Janeiro. Em 2005, durante seis meses, Rodrigo freqüentou o instituto conversando e gravando com clientes, psicólogos, psiquiatras, funcionários e familiares. Esse material foi mostrado ao amigo Rená Tardim, estudante de jornalismo da Uerj, e os dois decidiram deixar as fitas descansarem enquanto amadureciam, estudavam e aprendiam mais em suas faculdades.
Não podemos precisar o que aconteceria se os jovens tivessem editado e finalizado o material logo após as filmagens, isso seria um exercício leviano e displicente, mas podemos afirmar, ao menos, que o produto nascido dessa espera mantém o frescor e a inocência de um primeiro trabalho. Entre 2009 e 2010, Rodrigo e Rená tiveram que rever todo o material filmado e pensar que documentário poderia surgir daquelas imagens e entrevistas que estavam adormecidas há quatro anos.
O trabalho de montagem é primoroso e respeita a imaturidade e a jovialidade do material captado. As entrevistas são intercaladas com os momentos do dia a dia na clínica, como o jogo de futebol, a aula de música e a preparação do almoço no refeitório, o que permite um espaço, uma reflexão entre as falas, por vezes difíceis de serem absorvidas pelo conteúdo impactante e tão diferente da nossa realidade dita “normal”. As imagens nos ajudam a entender melhor esse mundo distante e ao vermos a seriedade com que a partida de futebol é disputada, gol a gol, lance a lance, nos aproximamos desses excluídos que nós, sociedade, preferimos trancar e esconder.
A liberdade que a equipe de filmagem encontrou para trabalhar é espantosa e a relação de confiança estabelecida com os pacientes comove e faz pensar na responsabilidade que esses dois jovens tiveram ao montar e preparar o documentário. No início, Rodrigo vai chegando devagar e conquistando a confiança de Bruno, um jovem pouco falante e sempre agarrado a um inseparável tambor. Essa timidez de Bruno escondia o intenso interesse pela câmera e pelo filme. Logo Bruno já está com a câmera na mão, filmando e conversando com os pacientes, depois entende que o papel de entrevistador é mais divertido e assume o microfone para nos brindar com tiradas e perguntas delirantes! A interação de Bruno com a equipe desata o resto de resistência que poderia existir e permite que a câmera esteja sempre no centro das atenções e das conversas.
Aqui, doido varrido não vai pra debaixo do tapete é um filme para ser aplaudido de pé! Rodrigo, Rená, e claro, Bruno, nos levam por uma viagem fantástica onde o preconceito é jogado para escanteio, o bom humor impera, mas os assuntos delicados são respeitados e tratados de forma direta e sem rodeios. É impossível levantar da cadeira até o fim dos créditos finais. Os dois realizadores merecem o acadêmico dez com louvor!
Aqui, doido varrido não vai pra debaixo do tapete (Here wackos are not swept under the rug)
BRASIL, 2010. 81 minutos
Direção: Rodrigo Selló e Rená Tardin